05 abril, 2012

02 junho, 2011

Embrace (Billie Collins)



You know the parlor trick.
wrap your arms around your own body
and from the back it looks like
...someone is embracing you
her hands grasping your shirt
her fingernails teasing your neck
from the front it is another story
you never looked so alone
your crossed elbows and screwy grin
you could be waiting for a tailor
to fit you with a straight jacket
one that would hold you really tight.


...


Minha tradução pessoal e (bem) livre:

Você conhece o velho truque
envolva seus braços ,
ao redor do seu próprio corpo
...e, por trás, parece que alguém o está abraçando

as mãos dela agarrando sua camisa
suas unhas brincando pelo seu pescoço, mas
pela frente
é uma história diferente

você nunca esteve tão sozinho
seus ombros curvados e sua fronte enrugada
poderiam estar esperando uma camisa-de-força
a abraçá-lo forte
bem forte.

29 maio, 2011

Let the seasons begin!



A terra está a 8 minutos-luz do sol. Sabe o que isso significa ? Que a explosão de hidrogênio (ou o que quer que seja - faltei nessa aula de física) que acontece no sol demora 8 minutos para poder ser percebida aqui.

8 minutos-luz são, aproximadamente, 150.000.000 de quilômetros... Mais ou menos como sair daqui de São Carlos e ir pro Porto, em Portugal, umas 400.000 vezes.

Isso impressiona. Mas sabe o que me impressiona mais ? O fato da terra dar uma inclinadinha... um passo de bêbado que seja... e que isso seja suficiente pra termos inverno e verão e todas as coisas lindas que acontecem entre as duas antagônicas estações...

Então, como diria Beirut, "let the seasons begin"!


(textinho inspirado no samba de roda da casa de cultura Teia e no post do Vítor)

20 julho, 2010

E o pulso...


Hoje era uma noite pra se ler poesias. De preferência de algum autor obscuro, desses incompreendidos, cultuado por meia dúzia de fãs incondicionais que não entendem como o mundo pode não valorizar o maior poeta do século. [que conste em ata: se o mundo o valorizasse, os fãs o abandonariam].

Já que o Google tá aí é pra isso mesmo, lancei um descompromissado "greatest unknown poet" ou cousa que o valha. É óbvio que ignorei as primeiras páginas, pois um poeta desconhecido que se preze só vai aparecer lá a partir do link 50 do buscador.

Como não encontrei nada que me apetecesse, voltei ao Pessoa.

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19 outubro, 2009

Garotos e mocinhas.


Magda deve ter uns 40 anos. É uma jovem senhora. Sorridente, sempre. Trabalha na padaria que fica vizinha à minha casa. Costumo bater papo com ela, quando vou lá, umas três ou quatro vezes por semana, ler meu jornal e tomar o de sempre: "um suco de laranja com gelo sem açúcar; um café coado; um pão na chapa". Vez por outra ela pergunta, meio séria, meio de sacanagem: "E aí, A., o que há de novo no mundo hoje ?". E eu faço uma versão pessoal da "folha corrida", resumindo em duas ou três frases o escândalo político da vez ou a última vitória do flamengo.

Magda é uma das pessoas mais bem-humoradas que conheço. Aquela padaria pode estar um inferno, com três camadas de gente em frente ao balcão, muitas com caras de poucos amigos, mas ainda assim, Magda sempre se sai com uma frase amável ou com uma gentileza a todo pedido mal-educado. E como tem gente mal-educada nesse mundo. Confesso que foge ao meu entendimento como alguém pode ser ríspido frente à suavidade do sorriso de Magda.

Há poucas coisas que me irritam mais que má-educação. Dessas, quem sabe apenas uma consiga invariavelmente me tirar do sério. É a falta de respeito. Não falta de respeito qualquer, mas essa falta de respeito classista, de quem acha que pode tratar qualquer um que esteja num patamar inferior da pirâmide salarial como quem trata um cachorro.

É comum ouvir chamarem a Magda de "mocinha". "Mocinha, cadê meu sanduíche ?". "Mocinha, o café é com leite, viu?". "Mocinha...". Isso vindo da boca de madames e monsieurs de saltos-altos e gravatas, muitos deles mais jovens que a Magda.

Seguro forte meu jornal e me controlo para não encarar o cidadão ou a cidadã e dizer-lhe algo... Respiro fundo.

[Acabo lembrando da Jane Elliot e seu incrível documentário "Blue eyed". Quem não conhece, deveria conhecer. Dá até mesmo pra ver no youtube, em pedacinhos. Elliot era uma professora primária que, logo depois da morte do Luther King, decidiu ensinar o que é preconceito a seus alunos, de uma maneira prática. Escolheu um grupo (os de olhos marrons) e explicou para a classe que aquele grupo era inferior e durante um dia, eles deveriam ser segregados. [No dia seguinte, os grupos se invertiam]. Os resultados são impressionantes.

No documentário, há um trecho que me chama muito a atenção. Elliot discorre sobre como os negros nos EEUU são chamados de "garotos" (boys), independentemente da idade ou dos cabelos brancos. "Um senhor negro de 70 anos será chamado de 'boy' pelo atendente atrás do balcão, de 20", ela explica - embora não exatamente nessas palavras [já está na hora de assistir novamente]. Me pareceu extremamente agressivo quando ouvi isso. "Como assim ? Não pode isso ser possível... Sinceramente alguém não pode ser tão absurdo. Isso não pode ser verdade"... Já quase começando a bolar teorias sobre as relações pessoais na América do Norte e etc, como se a arrogância fosse exclusividade estadunidense...

Aí lembrei do nosso Brasil, e do nosso "mocinha".]

...e enquanto eu seguro forte meu jornal, Magda também respira fundo, serve o café e sorri. E eu sorrio pra ela.


[atualização (20/10): Terminei esse texto mas fiquei com um gosto esquisito. Me desagradava o final. Tainá veio me salvar, unindo essa entrada com uma mais antiga, e concluindo de forma magistral, nos comentários: "A graça (e revolta) toda está em ouvir gente trombetear por aí o quão agradável nós brasileiros somos, sem comentar sobre nossos modos grosseiros, mal-educados e preconceituosos". E, sim, esse post merecia terminar com uma paulada, e não um sorriso! Obrigado, Tainá.]

26 setembro, 2009

Ao mestre com carinho


Quando bati pela primeira vez na sua porta, meus 23 anos me tornavam todo-poderoso. Tinha o mundo pela frente e ainda achava que tudo podia, ainda tinha aquele sentimento de que a vida é uma estrada sem fim, e que o expresso 2222 não partiria para o futuro enquanto eu não me decidisse a entrar.

Era um homem barbado. Uma barba branca e cheia que ele acariciava de maneira displicente. Ainda que sentado se notava um corpo esguio e elegante. Parou imediatamente o que estava fazendo e com um sorriso de curiosidade - que se percebia apenas no olhar - me indicou uma cadeira. Provavelmente a primeira coisa que me disse foi pedir que lhe chamasse de você, e não de senhor. E passou a escutar, coisa que faz tão bem, as histórias do moleque recém-chegado de um intercâmbio, que iria se formar em poucos meses e que queria mudar de área de pesquisa e entrar no mestrado.

Creio que tentou me dissuadir. Já naquela época ele tinha a idéia de que ia se aposentar em breve (até os mestres se enganam, ou tentam se enganar). Mas eu não ia deixar o expresso partir sem mim e aqueles poucos segundos de contato foram suficientes para que eu decidisse que estava ali o guia que eu queria. Intuição que mudou minha vida e que, naquele momento, fez-me sacar todas as armas que tinha: eu seria aceito por ele. Usei de tudo: das notas, à iniciação científica, ao ano na França, ao estilo musical preferido, ao gosto pelo futebol... mas o golpe de misericórdia foi me revelar padrinho de casamento de um grande amigo - um professor recém contratado que costumava tomar café com ele (e de quem eu sabia que ele gostava). Acho que aí ele percebeu que eu não iria desistir e arrefeceu: "Mas pô, além de referências acadêmicas você tem referências pessoais ?!". Naquele momento eu senti que tinha me tornado aluno do grande P.F. !

Quase dez anos se passaram. Ontem o mestre completou 60 anos e hoje estou eu sentado em minha sala na universidade a tocar minha barba (preta e nem tão cheia), enquanto lembro com carinho dos sonhos daquela época, separando os que me arrependi dos que realizei. Engraçado notar que quase todos se encaixam em um desses dois grupos.

Claro, outros sonhos, outros desejos, foram aparecendo no caminho, mas dessa época, quem sabe apenas um objetivo continue tão - ou mais - vivo. É nele, nessa meta que tracei há tanto tempo que penso hoje. E percebo que a frase que mentalmente me disse depois de uns minutos de conversa naquela primavera de 2000 continua verdadeira. Mais, continua sendo o que tem sido nesses últimos tantos anos: uma espécie de oráculo pessoal. Sempre que não sei bem o que fazer, que rumo tomar para a minha vida, penso naquele dia e me vejo, com 23 anos e uma voz ainda quase adolescente, me dizendo: "Eu quero ser como esse cara!".

Vida longa, Paulo.

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23 setembro, 2009

Flores


Amanheci angustiado. Infeliz comigo, como há muito não me sentia e pior, sem entender direito o motivo. Decidi, então, correr. Beirava as seis da manhã e a padaria ao lado de casa já abria as suas portas, mas a impressão era de um dia que ainda não era dia.

Hoje não pus música para tocar, mas um audiobook do Haruki Murakami, um japonês que eu conheci através de uma reportagem da Folha de São Paulo há alguns meses. "Escritor e maratonista" é a descrição curta mais encontrada para ele. Ainda mais agora, depois do seu último livro: "What I talk about when I talk about running", que estou ouvindo.

Minhas pernas doem. Domingo corri 10km. Ontem 5km. Hoje não deveria correr, mas essa angústia precisava sair de alguma maneira, e eu achei que o suor podia ajudar. Sempre ajuda, ou ao menos tem me ajudado nos últimos tempos, desde que comecei a correr, há cerca de seis meses.

O livro do Murakami parece explicar o que estou vivendo. Na parte que ouvi hoje ele fala dos sentimentos de quando começou a correr. Ele tinha 33 anos, mais ou menos minha idade atual. Era o início da década de 80 e é estranho ver como um japonês, há quase trinta anos, já traçou um caminho que eu chamo de meu...

"...not long after that I also gave up smoking. Giving up smoking was kind of natural result of running every day. It wasn't easy to quit but I couldn't very well keep on smoking and continuing running. This natural desire to run even more became a powerful motivation for me not to go back to smoking and a great help in overcoming the withdrawal symptoms. Quiting smoking was like a symbolic gesture of farewell to the life I used to lead..."

"Farewell to the life I used to lead." Que importa a distância cultural, temporal, espacial ? Ele escreveu o que eu sinto. E isso me fez sentir-me humano. Em comunhão com a humanidade, seria uma expressão mais completa.

Enfim, as pernas doíam e eu parei em uns 4 quilômetros. Subi caminhando a avenida que me levaria até em casa. Nos fones, Murakami narrava sua primeira maratona, entre Atenas e Marathon. Sim, o trajeto original, mas feito no sentido inverso. Contava de como, exausto ao final do percurso, recebeu flores de um grego em um posto de gasolina. O grego não o conhecia mas ao ouvir a sua história colheu uma ou outra flor de um vaso e lhe ofereceu.

Comovido como estava, deixei cair mais uma ou duas lágrimas. Repito, sentia-me humano. Plenamente parte desta raça capaz de gestos tão simples. Assim, absorto, quase não notei que, do ônibus parado em frente, me olhava uma senhora. Seu olhar estava um pouco assustado (um homem barbado, às seis e pouco da manhã, suado e chorando ao entrar em casa não deve ser assim uma visão muito comum), mas continha uma quantidade de ternura que me fez pensar que se alguém lhe contasse o que tenho vivido, ela seria capaz de colher uma ou outra flor e me oferecer. Nesse momento, a angústia finalmente foi embora.

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